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Os 30 anos de ‘Kamen Rider Black RX’ no Brasil

No dia 24 de julho de 1995, há exatos trinta anos, Kamen Rider Black RX, continuação direta de Black Kamen Rider, aportava nas telas da finada Rede Manchete de Televisão. Exibido às segundas e quartas-feiras na Sessão Super Heróis, fazendo parceria com Solbrain, o seriado fez bastante barulho na mídia especializada da época. Mas até chegar ao Brasil muita água rolou por baixo dessa pedreira ponte. Mas é muita água mesmo. Cuidado pra não se afogar.

 

O “Senhor Black” engavetado

Vivendo um verdadeiro período de bonança devido aos excelentes resultados de Jaspion e Changeman na Manchete, aliado à uma verdadeira miríade de produtos nas lojas em parceria com a Mesbla, a Everest Vídeo pisou fundo no acelerador no início de 1989. Já com Flashman fazendo parceria para as duas séries pioneiras da sua distribuidora, o empresário Toshihiko Egashira foi às compras. Da Toei Company trouxe mais três séries ainda em 1989: Maskman, Metalder e Kamen Rider Black, todas de 1987.

Contrato Metalder entre Toei e Everest | Imagem: Rafael Brito

Contrato de Metalder entre Toei e Everest | Foto: Rafael Brito/JBox (material disponibilizado por Toshishiko Egashira)

 

Foto contrato Maskman e Black entre Toei e Everest | Imagem: Rafael Brito

Contrato Maskman e Black entre Toei e Everest | Foto: Rafael Brito/JBox (material disponibilizado por Toshishiko Egashira)



Você pode estar estranhando: se foi para lá, por que não trouxe as do ano anterior, 1988? Acontece que o plano do senhor Egashira, até onde indicam todas as notícias de jornais da época, era trabalhar séries aos poucos e em sequência. Em março de 1988, a Folha de S. Paulo já noticiava que estavam previstos para o segundo semestre daquele ano as séries Flashman e Spielvan. Se você viveu a época, sabe que isso ficou apenas na previsão. Flashman estreou um ano depois, em março de 1989, com seus 10 primeiros episódios iniciais sendo exibidos à exaustão até agosto daquele mesmo ano. Spielvan, que foi vendido goela abaixo do público com a insólita alcunha de Jaspion 2, chegou à TV Manchete apenas em 1991, embora sua trilha sonora tenha chegado às lojas no natal de 1990. Curiosamente, assim como Flashman, Spielvan também estreou somente com seus 10 episódios iniciais, com muitas reprises. É um forte indício de que as séries foram compradas juntas e, provavelmente, esse lote inicial de 10 episódios foi o mesmo para ambas.

OK. Mas aí chegamos à 1989. Spielvan engavetado, para sabe-se lá quando, e mais três séries no acervo da Everest. Aí temos outra narrativa complicada: o espaço que as séries da distribuidora ocupavam na emissora da Rua do Russel. Além dos três seriados, ainda tínhamos um quadro chamado Clube dos Super Heróis apresentado pela menina Winnie Li, com sorteios de brinquedos para os telespectadores. Jornais da época contam que Wilson Katakura, sócio de Toshihiko Egashira na Manchete, tentava emplacar um programa da própria Everest nas manhãs da emissora. Com um arsenal de três séries inéditas na manga, a empreitada parecia bastante válida. Essas informações datam de maio de 1989 a junho, mas claramente não evoluíram e os rumos foram outros.

Em outubro de 1989, a Manchete estreou o programa Cometa Alegria, com apresentação de Cynthia Rachel e Patrick Oliveira, e com duas séries inéditas: Jiraiya e Lion Man, com selo de distribuição da Top Tape em uma parceria com a própria emissora. Embora as séries da Everest estivessem no programa, o frescor da novidade estava focado claramente em Jiraiya e, alguns meses depois, em Jiban, cuja estreia aconteceu em janeiro de 1990, enquanto a série ainda estava em exibição na televisão japonesa. Ou seja, a lógica sequencial de Toshihiko Egashira tinha eclodido com a entrada da concorrência. 

Em 1990, a Everest não trabalhou nenhuma série inédita na Manchete, mas conseguiu emplacar (?) Metalder no horário nobre da Rede Bandeirantes. Lá, também estavam as séries da distribuidora Oro, mais uma concorrente que apareceu no caminho da Everest. Diferentemente do sistema de permuta com a emissora carioca, a série do Homem-Máquina foi vendida diretamente para a Bandeirantes, cobrindo os custos. A sua exibição na sessão noturna dedicada às séries japonesas até julho daquele ano, foi de maneira incompleta.

Só pudemos conferir todos os episódios de Metalder no TV Criança, programa vespertino da emissora, e quase sem nenhuma reprise. Produtos de Metalder no Brasil? Apenas uma máscara (com tiragem baixíssima) da Everest Brinquedos e uma página em um álbum de figurinhas lançado em 1991. Tá, mas você veio aqui para ler sobre o RX e ainda nem chegamos no Black. Calma aí que ainda falta um pouquinho.


No final de 1990, surge a notícia de que as séries inéditas da Everest poderiam ir para uma terceira emissora. Aqui, as hipóteses apontam para a Rede Globo de Televisão. Embora não haja informações concretas além do que os jornais publicavam, a hipótese é plausível, já que pouco tempo depois a emissora carioca colocou uma série da Globo Video, o Policial do Espaço Shaider, para rodar como “teste” na TV Gazeta em novembro daquele ano. Em 1991, estreia Bicrossers na Sessão Aventura, e em pouco tempo ganharia a companhia do Policial do Espaço Gavan. Quando ambas saíram de cena na Sessão Aventura, Shaider migrou da Gazeta para a Globo nos sábados pela manhã.

Portanto, a concorrência que a Everest enfrentou quando tinha três séries no mercado de licenciamento (Jaspion, Changeman, Flashman) começou a dar uma atravancada no mercado. Mesmo que não houvesse mais do que duas VHS lançadas de Goggle V e Machineman pela VideoBan em parceria com a Oro, eram mais heróis para dividir a atenção da turma, que já tinha bons olhos para Jiraiya, Jiban e Lion Man. Somam-se a eles Spectreman, Lion Man “branco”, Sharivan, Cybercop, Shaider, Bicrossers e Gavan — a Everest estava com 4 séries contra 12 de outras distribuidoras.

A hora de abrir a gaveta finalmente chegou em 1991. Na reestreia da Sessão Super Heróis, a Everest veio com tudo, lançando as suas últimas séries: Maskman, Black Kamen Rider e Spielvan. Aí foi que o senhor Black roubou a cena. Por ser a série mais diferente até então, com o enredo mais sombrio, com histórias mais soturnas e visual bem inusitado, chamou a atenção do público e acabou sendo a mais celebrada dessa última leva.


A Metamorfose

O seriado que contava a história de Issamu Minami (Kotaro Minami, no original) em busca de justiça contra os Gorgom passou por diversos programas na emissora. Depois de sair da Sessão Super Heróis, foi destaque no Cometa Alegria, no Clube da Criança e, em 1992, no Dudalegria. Em abril de 1993, quando figurava novamente numa versão matutina da Sessão Super Heróis, a emissora deu um descanso para a imagem do Senhor Black. Enquanto isso, nas lojas, os brinquedos da Glasslite eram vendidos para a farra da garotada. Só que tinha uma moto meio diferente, que ele não usava na série, e que também não era aquelas picaretagens clássicas da empresa de brinquedos. Voltaremos a isso depois.

Página do catálogo da Glasslite | Imagem: Flickr Etiene de Souza

Página do catálogo da Glasslite | Imagem: Flickr Etiene de Souza

 

Em dezembro de 1993, Black Kamen Rider volta à Manchete em exibição noturna, às 18h30, pouco antes do seriado Família Brasil. Bons índices nessa época garantem a série como líder de audiência na emissora, em uma época que a Manchete amargava o 7º lugar na soma geral do Ibope. O seriado foi o último tokusatsu a conseguir liderar a audiência na emissora dos Bloch, feito que já tinha sido alcançado anteriormente por Jaspion e Changeman em 1989. 

Depois de migrar para as tardes da Manchete em fevereiro de 1994, a série foi exibida até julho, fazendo uma saudável parceria com Cybercop, da Sato Company. De maneira completamente miserável, jamais exibiram o episódio final da série, deixando em aberto o duelo final entre Black e Shadow Moon no momento em que o vilão ficou de posse de Patrol Hopper (Battle Hopper, no original), a motoca amiga do herói. A última exibição da série na Manchete aconteceu em 15 de julho de 1994, às vésperas da final da Copa do Mundo. Já no dia 18, um dia depois da conquista do tetracampeonato, começava uma nova fase para a Tikara Filmes, nome da extinta Everest: Winspector chegava à programação, e logo ganharia a companhia de Patrine e isso desaguaria na nossa tão aguardada repaginada da Sessão Super Heróis um ano depois.



Avança para 1995. Já temos a revista Herói nas bancas, surfando no sucesso dos Cavaleiros do Zodíaco, que estrearam em setembro de 1994 na Manchete. Na edição 1 da revista, somos apresentados, em matéria de Alexandre Nagado, ao então novíssimo Kamen Rider J:


“Pouca gente sabe, mas o herói Black Kamen Rider, exibido no Brasil, faz parte de uma saga criada em 1971 pelo quadrinista Shotaro Ishinomori. Depois dos Kamen Riders V3, Amazon, Black RX, Shin e outros, a Toei lançou neste ano o Kamen Rider Jay, criado especialmente para cinema, em duas aventuras.”

OK. Black RX. Conte-me mais sobre isso aí. Na edição 10, a revelação veio completa:

“Em 1987, Shotaro Ishinomori lançou Kamen Rider Black (conhecido no Brasil como Black Man ou Black Kamen Rider), com histórias mais sombrias. […] Em 1988, teve início Kamen Rider Black RX, novamente vivido por Tetsuo Kurata (Issamu/Kotaro), mas com visual e poderes alterados. RX também pode assumir duas outras formas: Bio Rider e Robo Rider”.

Ou seja, além de não termos visto o final do Black, nem sabíamos que tinha continuação. Mas em questão de poucos meses isso mudou.

Quando Winspector já estava consolidado, com seus brinquedos baseados nos originais japoneses vendendo muito bem pela Glasslite, temos a chegada de Solbrain, a primeira das continuações dessa nova fase. Reinaugurada a Sessão no dia 12 de junho, pouco tempo depois chegaria o glorioso (?) filho do sol.

 

Sou o filho do sol 

Continuação direta de uma série que nunca pudemos conferir o final na TV, Kamen Rider Black RX fez sua estreia na Sessão Super Heróis com uma boa divulgação da emissora, que ficou passando a chamada por um bom tempo. Julho de 1995 era uma época de bastante sucesso para a emissora, que navegava em águas calmas graças ao sucesso estrondoso da segunda fase de Cavaleiros e comerciais sobre o filme de Abel, que recém chegara ao cinema, eram exibidos à exaustão.

RX trouxe uma proposta bem diferente do ar mórbido de Black. Era uma série mais solar (desculpe a infâmia), com o herói vivendo outro momento, agora trabalhando como piloto de helicóptero, tendo uma família emprestada (os Sahara) para conviver, e até mesmo uma namorada, a fotógrafa Reiko.

Lembrando muito mais a lógica dos Metal Heroes, com império vindo de outra dimensão, com naves, hierarquia bem definida de comando e um aspecto menos denso do que o tradicional dentro das séries Kamen Rider, RX causou bastante estranhamento para quem estava aguardando realmente um “Kamen Rider Black II”.

A trilha sonora contou com as canções vibrantes de Takayuki Miyauchi e Ichirou Mizuki, sendo um dos grandes destaques positivos da série. No Brasil, a trilha de abertura ganhou versão em português, encomendada pela Tikara Filmes.

Outro destaque da série fica para a aparição dos Kamen Riders anteriores a Issamu, que não se juntavam desde o especial do Kamen Rider ZX, de 1984. Foi a primeira vez que o público brasileiro pôde conferir de perto mais personagens da franquia.

O elenco da dublagem, realizada na Álamo, manteve a voz de Elcio Sodré como Issamu Minami. À época, Elcio fazia muito sucesso como Shiryu de Dragão na dublagem da Gota Mágica de Cavaleiros do Zodíaco. O erro grotesco de escalação foi não terem colocado Francisco Bretas como Shadow Moon em um episódio em que ele acaba fazendo uma ponta. Para “compensar”, Bretas ganhou o General Dasmader como personagem fixo.

O herói chegou a ser capa da edição 43 da Herói Gold e depois teve um guia de episódios lançado na Herói Extra 2, em 1997.

Capa da Herói Gold 43 | Imagem: Reprodução

Capa da Herói Gold 43 | Imagem: Reprodução


No Brasil, a Glasslite investiu bastante na divulgação dos brinquedos. Anúncios como os que tinham no verso da revista Herói (assim como de Solbrain), atiçaram o público. Lembra da moto estranha que tinha na coleção do Black em 1991? Ela era a versão do herói Biorider. De uma maneira bem torta, o público brasileiro já tinha contato com a continuação de Black sem nem saber.

A série foi lançada em VHS pela Intermovies até o episódio 19. Muitos anos depois, já nos anos 2000, ganhou um insólito lançamento pirata em DVD.

Assim como Kamen Rider Black, RX nunca teve seu final exibido na TV Manchete. Para nossa sorte, o final foi dublado na época, “vazado” de dentro da Tikara graças a fitas de transporte para releases/matérias, e caiu na mão do fandom ainda no final dos anos 1990, sendo replicado em dezenas de fitas VHS pelo país a fora. Inusitado como, em muitos casos, a pirataria faz o trabalho de preservação histórica que deveria ser responsabilidade das distribuidoras.

Passando na Manchete até meados de 1997, RX teve um destino inglório no Ocidente. Foi transformado na aberração Masked Rider pela Saban Entertainment, que uniu também cenas de Kamen Rider ZO. Em um insólito encontro com os Power Rangers no começo da terceira temporada dos heróis de Alameda dos Anjos, foi a única vez que o personagem apareceu em TV aberta, já que o contrato da Tikara com a Toei previa que a empresa podia explorar o personagem na Manchete e a Saban poderia trabalhar na TV a cabo, no caso a Fox Kids aqui no Brasil.


A seguir, cenas do próximo capítulo

Atualmente, Kamen Rider Black RX está no catálogo da Sato Company, em seu canal no YouTube e também no Prime Video e Mercado Play. Ainda muito querido pelo público, o ator Tetsuo Kurata esteve recentemente no Brasil no Anime Friends. Foi a segunda vez do eterno Issamu Minami em nosso país.

Mostrando que a marca Kamen Rider Black segue viva no Brasil, a editora Mozu vai lançar o terceiro Guia Visual Definitivo da sua coleção, dessa vez focando na primeira encarnação do personagem, quando ainda enfrentava os Gorgom.

Nesses trinta anos que se passaram, agora temos diversos Kamen Riders de maneira legalizada no Brasil, através da Sato Company, incluindo até uma série (Build) e um filme (Zero-One) dublados. Para quem teve que aguardar dois anos só para desengavetarem o Black lá nos anos 1980, e mais de 30 anos para assistir ao final do dito cujo dublado, parece até mentira a variedade de séries que hoje temos à disposição de maneira legalizada.

Parabéns ao filho do sol pelos 30 anos de Brasil.


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